sábado, 27 de novembro de 2010

Sinal dos tempos


Outro dia andei lendo em algum lugar que Tropa de Elite 2 já está chegando nos 10 milhões de espectadores. A previsão é de que muito em breve venha a ser o recordista de público em se tratando de cinema nacional. É um sinal dos tempos. O povo reclama da violência, dos arrastões, da criminalidade que iguala ou mesmo supera o barbarismo que se praticava na idade média, e ainda assim lota as salas de cinema pra ver pessoas sendo colocadas dentro de pilhas de pneus e depois incendiadas, feito um churrasco humano.
Não se sabe o motivo, mas parece que o cinema nacional, cansado das pornochanchadas do final dos anos 60 e início dos 70, agora tenta se “reinventar” abordando a temática da violência e assim denegrindo enormemente a imagem do país, já bastante prejudicada pelos assaltos a turistas no Rio de Janeiro e outras capitais. Recentemente, o ator americano Sylvester Stallone, que esteve no Brasil para gravar cenas de seu filme Os mercenários, comentou que é só lá (no Brasil), que você pode explodir casas e as pessoas acham bonito, ou ainda que só no Brasil poderia existir uma corporação policial que usasse uma caveira com um punhal cravado nela como seu símbolo.
Na época, muita gente se disse indignada com as declarações do astro, porém ninguém hoje critica o filme do momento, que se esforça por passar uma imagem negativa do país que sediará a próxima Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas. Não admira que lá fora as pessoas não vejam com bons olhos o Brasil! O filme Tropa de Elite 2, assim como seu antecessor, é um festival de matança e policiais corruptos e truculentos. O “herói” do filme é um homem que se diz incorruptível, porém não hesita em torturar e espancar. É partidário da “justiça com as próprias mãos”. Mais do que um exemplo a ser seguido, o Capitão Nascimento deveria muito antes estar em alguma revista em quadrinhos, como aquelas do Justiceiro, personagem que parece ter lhe servido de inspiração.
Com tantas opções de bons filmes esperando para serem vistos, o público, que em casa às vezes troca de canal para não ver “tanta violência”, procura justamente esse tipo de filme para ver, e assim se “desestressar” de uma semana cheia de trabalho. Não admira que as crianças cresçam considerando a violência como algo “normal”! Calcula-se que um jovem, ao chegar aos 18 ou ou 19 anos, tenha presenciado cerca de 20.000 assassinatos através da tela da TV, seja em noticiários ou em filmes de “ação”.
No caso de Tropa de Elite 2, o que parece atrair as pessoas é a ideia de se tratar de algo “real”. Muito pior, se assim for, pois prova que a matança, quando vinda de uma situação fictícia, de mentirinha, como se diz, não chama tanto a atenção! O cinema nacional atual, agora com recursos financeiros cada vez maiores, se empenha em “mostrar um retrato do Brasil em que vivemos”, nem que para isso venha a desestimular enormemente o turismo internacional. Em vez da violência exagerada, dos tiroteios de fuzil e dos policiais truculentos, eu preferiria muito mais que se continuasse fazendo aqueles filmes de apelo erótico tupiniquim que se fazia nos anos 70!
Se tais filmes não tinham nada a acrescentar de cultural, também não tinham nada de prejudicial. O público assistia, dava umas boas risadas, às vezes se excitava um pouco, e pronto. Agora a situação escapou completamente ao controle, virou um pandemônio: a violência explode nas ruas, nos becos escuros, e o cinema endossa, filma e leva ao grande público, falsamente seguro dentro das salas de cinema de luxuosos shoppings. Muito diferente da época dos filmes de faroeste, em que víamos e voltávamos tranquilos pra casa. Hoje, saímos do cinema e o bandido está logo ali na rua, de arma em punho, à nossa espera.

Um comentário:

Márcio Francisco de Moraes disse...

Meu caro, o filme "não endossa a violência" como disseste. Ele apenas apresenta ao público os motivos dela existir. Está evidente em seu texto que vc não assistiu o filme antes de falar sobre ele. Mesmo que talvez vc possa não gostar do que vai assistir, é de bom tom tomar conhecimento das obras antes de fazer críticas às cegas. Costumo sempre concordar com tuas idéias primo, mas desta fez pisaste feio na bola! WTF is gooing on, man?!?! rsrsrsrs